Viver é um constante desafio. É
um pique esconde-esconde onde você tenta se esconder de si mesmo. Não é
esconder algo, mas viver com seus medos, suas angústias, frustrações, anseios e
decepções. É lutar por compreensão e entendimento. Não é fácil. É uma luta
desigual. Você luta contra seus anseios e frustrações, achando que o mundo
acaba quando uma derrota se avizinha e esquece que amanhã é outro dia, outra
batalha em uma guerra infinita chamada vida onde o seu maior inimigo é você
mesmo com seus medos.
O que falamos, pensamos e fazemos
têm seus pesos específicos, suas consequências imediatas e invioláveis. O fiel
dessa balança está sempre nas mãos de outrem, quando o fiel deveria ser o
equilíbrio entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o possível e o impossível.
Mas não, são outros conceitos que controlam ações e reações, sucessos e
fracassos. Tristezas e felicidades, vida e morte. É um constante viver atrás da
linha inimiga. É um dormir em ninho estranho e acordar com seus pesadelos.
Estamos sempre na alça de mira daquilo que esperam que sejamos e não do que
almejamos ser por nós mesmos. Daí a angústia de querer ser e do não ser, do
tentar ser e do não conseguir ser. Somos, na realidade, o que querem o que
sejamos, nunca nós mesmos.
Que armas usar não interessa.
Sempre serão obsoletas. Palavras são lançadas ao vento, transformadas em
tempestades por aqueles que não conseguem se encontrar e destroem a
possibilidade dos que podem ser. Tempestades com raios e trovões contra a
própria natureza onde não há benefício alheio, apenas impõe derrota aos
almejados por frustrações impostas. Mesmo com atitudes pensadas, medidas,
articuladas e calculadas tudo parece em vão. É andar em campo minado e escutar
explosões em sua volta. Parece impossível a sobrevivência. É a lei do cão. É a
teoria do caos em que determinados resultados podem ser instáveis, aleatórios.
A consequência do bater das asas da ganância que corroem os alicerces da moral
e da ética, do bem estar social e felicidade coletiva, da democracia do livre
pensar e responsabilidades dos atos. É a teoria do caos da inveja que deveria e
poderia ser usada para o bem, como motivação para superar aqueles que julgamos
ser melhores e que, no entanto, se transforma em cascatas de intolerância e
ignorância que impede o crescimento próprio, criticando o crescimento alheio.
Viver é mesmo um constante
desafio. Um andar em corda bamba, sendo que andamos em arame farpado pisando em
ovos. É uma gangorra com altos e baixos cujo embalo é o meio social em que
vivemos, é o nosso habitat natural feito artificialmente pelos homens em busca
de proveito próprio. É um equilibrar a cada milésimo de segundo, a cada
suspiro, a cada piscar. Não se passa por brisas, atravessa turbulências e
nuvens carregadas de energia que lançam raios. Não há calmaria, há, na verdade,
o olho do furacão onde a calma é ilusória e temporária com tempo certo para
derrubar o que ou quem aparece pela frente, que pareça obstáculo, oferecer
empecilho. Sempre há tufões querendo demolir o que pouco se constrói. As gotas
de chuvas que caem se misturam com as lágrimas para disfarçá-las, para esconder
o que se sente no íntimo, a angústia e a frustração de ver sonhos e realizações
destruídos. Para que revelar se o som do seu íntimo se perde no rugido das
trovoadas?
A vida é um campo minado com
inimigos ocultos. Campo minado por palavras sem nexo lançadas como granadas
dentro da trincheira individual que fazemos na esperança de nos protegermos...
Palavras não respeitam muros, barreiras e nem distância. Palavras matam e não
deixam rastros.
Tudo é muito difícil. Sair às
ruas, dirigir, correr, amar, acreditar, perdoar, entender e ser entendido...
Tudo sempre é tão difícil porque o simples fato de viver cada dia por sua vez
incomoda aqueles que não conseguem acordar e ver que o sol, mesmo oculto por
grossas nuvens, existe para todos de igual forma, igual valor, igual potência,
sem discriminação ou preconceito.
É desigual e injusto lutar contra
o que não se vê. Qualquer coisa é insuficiente. Mas não basta sentar e esperar
que tudo aconteça. Não é melhor simplesmente viver. É preciso acreditar que a
bonança existe. Acima das nuvens escuras o sol brilha. Tudo pode mudar. É
preciso traçar estratégias e a melhor é querer viver. Não é fácil, mas é
preciso viver.
Irônico pensar que mesmo
conseguindo viver a todas as intempéries do cotidiano o prêmio de toda uma vida
é a morte como ponto final. Há os crentes de que a morte é um descanso. Os
contrários a esta teoria afirmam categoricamente que se morrer é descansar,
preferem viver cansados. Não sei em qual dessas linhas de pensamentos
filosóficas tão profundas me encaixo.
Simplesmente vivo... Simplesmente
viva e me deixe viver.
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