Criados na vida social para orientar as ações humanas e regularem a
relação entre as pessoas, os valores morais não têm validade universal.
Ao contrário, eles são válidos apenas em um contexto específico, no
quadro de uma cultura determinada, e têm existência histórica.
Os valores são válidos apenas em contextos específicos, ou seja, em
um determinado aqui/agora, porque um comportamento bom e aprovável em
certo momento pode ser ruim e profundamente reprovável em outro. Mentir é
reprovável na maioria das ocasiões, mas quem recriminaria as pessoas
que, fugindo da perseguição do exército nazista, mentiram sobre o
paradeiro de seus colegas e não os entregaram?
São válidos no quadro de uma cultura, porque os valores não fazem
sentido isolado de todas as outras dimensões da vida humana. Assim, é
preciso levar em conta o quadro de relações que leva um grupo a definir
alguns comportamentos como aprováveis ou reprováveis. Por essa razão, um
mesmo ato pode ter sentidos diferentes se tiver acontecido nas classes
médias urbanas de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro ou em uma
pequena cidade interiorana; se uma ação ocorre entre um povo indígena ou
em um país do oriente.
Esses valores são válidos historicamente porque são criações humanas
e, como tais, atendem a necessidades de um determinado grupo e um dado
momento. Por isso, são passíveis de mudanças. A história das mulheres
nas sociedades ocidentais ao longo do século XX pode exemplificar essas
mudanças: uma série de comportamentos mal vistos e indesejados há 50
anos hoje é aceitos e até mesmo valorizados.
Como se vê, os valores morais não estão organizados em uma tábua de
prescrições de condutas que levam automaticamente a uma vida boa. Ao
contrário, eles são criações humanas ligadas às condições de vida
historicamente criadas. Não podemos ter tudo a todo instante e aprender a
decidir é, também, aprender a hierarquizar o que é mais importante do
que é menos importante na situação em que a escolha nos é colocada.
Como se pode deduzir, a questão da liberdade é um dos
grandes temas nas discussões morais. Mais que escolher entre duas
alternativas, liberdade é decidir conscientemente por que se está
tomando esta atitude e não outra. Assim, a liberdade pressupõe uma
pessoa que interiorize as razões pelas quais se age, ou seja, um sujeito
que se coloca como a causa última das próprias ações. É importante, no
entanto, nunca esquecer que sempre há um segundo sujeito nas ações de
liberdade que se envolve, ou seja, o limite do outro deve ser
respeitado. Tudo que ultrapasse esse limite pode causar ações
indesejadas e isto gera conflito. A liberdade de escolha deve pesar
sempre se vai ou não prejudicar a alguém ou provocar alguma situação
indesejada, principalmente dentro de um contexto moral regido por uma
sociedade. Se o indivíduo está inserido em tal sociedade, certas
liberdades morais não são cabíveis. Para isto foram criadas as leis.
Na perspectiva da filosofia Existencialista, na visão de Nietzsche, o
homem “assassinou” Deus. Não se tem mais parâmetros de comportamento de
respeito ao próximo e até mesmo a si próprio. Se forem analisados na
concepção de Nietzsche, os Dez Mandamentos e todos os evangelhos
bíblicos já foram esquecidos e a religião é uma arma psicológica que o
homem usa para manipulação do que considera moral ou ético, sendo o
homem objeto de desejo para grandes realizações políticas e sociais.
Assim, em pleno século XXI não se vê um conceito capaz de conduzir o
homem a um “paraíso” como apregoam religiões, ONGs e até mesmo
políticos. Tudo o que se vê são interesses.
A frustração faz parte do cotidiano humano, onde o Ser e o Não Ser
são presentes. O desejo de Ser algo mais leva a comportamentos longe do
conceito moral e ético social. O desejo de Ser mais que o outro não
impede que atitudes consideradas outrora impensáveis acabem por causar
angústia e vem em seguida a frustração quando se descobre que outros
pensam da mesma forma e que a corrida para o Ser algo é muito mais
competitiva e com isso as “armas” usadas ficam cada vez mais pesadas.
Que armas poderiam ser essas? Aquelas que precisam ser municiadas com
imoralidades, desdém de ética e passível de explicações egoístas, afinal
o Existencialismo apregoa o “Eu” como prioridade, então “os fins
justificam os meios”, diria Montesquieu.
Quando o Não Ser vem a tona, a frustração provoca reações diversas em
que mais uma vez valores morais são esquecidos. Realmente é
angustioso, frustrante ver castelos se desmoronarem na praia com as
marolas que passam. É o despreparo psicológico que leva a tragédias
inúmeras por toda a História. O homem definitivamente não está preparado
para ouvir o “não” imposto pela vida. Daí a insegurança ao descobrir de
que é inferior em pensamentos, conhecimentos, matéria, beleza, etc.,
quando na verdade não o é, apenas existem mais seres como ele. É uma
competição psicológica e não substantiva onde se pode descartar ou
trocar componentes para melhor preparar o que se tem a mão para esta
disputa. Infelizmente o homem vive muito mais no abstrato que no
material. Vive subjetivamente e não objetivamente, embora que no campo
do objetivo é onde residem as maiores frustrações do Não Ser humano.
Sem parâmetro moral ou ético, o homem torna-se canibal de si mesmo.
domingo, 19 de agosto de 2012
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