terça-feira, 30 de novembro de 2010

Chão Batido


Certa vez perguntaram para minha tia o que significava “uai”. Ela, sem titubear respondeu: - Uai é uai, uai! Desde que me contou essa passagem e olha que já faz um bom tempo, passei a preparar algumas respostas caso o mesmo me acontecesse.
Uai é muito mais que uma simples palavra da cultura interiorana mineira. Expressa toda uma terra, um estado bem maior que muitos países tidos como de primeiro mundo. Para mim é o primeiro mundo esta terra que piso descalço há décadas, com tantos contrastes dentro de um pequeno mundo chamado Minas Gerais.
Minas de tantas realidades interligadas por um sentimento comum, o de que ser mineiro é tudo. Mineiro é sincero e aberto sem perder o jeitinho delicado e educado de falar. É devagar, mas constante, sem estardalhaços e comendo sempre pelas beiradas para não se queimar. É ser inteligente e discreto. É falar pouco e acertado, embora contar “causos” seja com ele mesmo, não dispensa e nem deixa passar uma oportunidade, isso é conosco mesmo. É ser receptivo e desconfiado sempre. Mineiro que é mineiro mesmo não enfia mão em cumbuca fechada, é o come quieto. Ser mineiro é ser bonito pelo que é e não pelo que aparenta ser.
E as belas terras mineiras então? Serras verdes, vales floridos, cerrados e campos. Há também diversificação até nisso, que o diga o Vale do Jequitinhonha com suas secas que parecem eternas. Mas o povo que lá vive honra o “minerez” mesmo que um pouco carregado do sotaque nordestino, tem orgulho de pertencer a Minas Gerais, de capital “Beozonte”, ou Belô para os mais íntimos.
Terra das Minas Gerais! Fonte de riquezas infindáveis e variáveis. Rasgada, surrada, explorada, talhada, desbravada, mas jamais conquistada. Com seus encantos não se deixou ser possuída pelo modernismo. Continua com seu fogãozinho a lenha conquistador e romântico, dentro de uma casinha simples de chão batido, guardada por um vira-lata de latino fino e estridente. Da chaminé ainda sai uma fumaça que sobe serpenteando rumo a um céu de puro azul. A minha Minas continua a mesma de outrora.
Quem mora em Minas descobre que é abençoado. Se quiser o frio europeu basta ir a Maria da Fé, onde até mesmo a neve dar o ar de sua graça algumas vezes. Porém com a diferença que só o mineiro tem: a hospitalidade inerente e nativa. Ao contrário dos gringos que olham os brasileiros com seu ar de nariz empinado.
Se quiser um calor saariano basta ir para Montes Claros, bem ao norte. Não tem praia, mas cachoeiras lindas e de águas frescas e cristalinas não faltará. Para que mar se temos essa riqueza sem o risco de ser torpedeado por um detrito oriundo de um esgoto que sempre são lançados ao mar direto de uma selva de pedra? Somos ou não abençoados?
Minas Gerais é mais, muito mais que um simples uai. Vai ale, muito ale que um simples estado. É um mundo dentro do mundo.
Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais. O nosso “inté” nunca será bye bye!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Campo Minado



Viver é um constante desafio. É um pique esconde-esconde onde você tenta se esconder de si mesmo. Não é esconder algo, mas viver com seus medos, suas angústias, frustrações, anseios e decepções. É lutar por compreensão e entendimento. Não é fácil. É uma luta desigual.
O que falamos, pensamos e fazemos têm seus pesos específicos. O fiel dessa balança está sempre nas mãos de outrem. Controlam ações e reações, sucessos e fracassos. Tristezas e felicidades, vida e morte. É um constante viver atrás da linha inimiga. É um dormir em ninho estranho e acordar com seus pesadelos.
Que armas usar não interessa. Sempre serão obsoletas. Palavras são lançadas ao vento. Mesmo com atitudes pensadas, medidas, articuladas e calculadas tudo parece em vão. É andar em campo minado e escutar explosões em sua volta. Parece impossível a sobrevivência. É a lei do cão. É a teoria do caos, determinados resultados podem ser instáveis, aleatórios.
Viver é mesmo um constante desafio. Um andar em corda bamba, sendo que andamos em arame farpado pisando em ovos. É uma gangorra com altos e baixos. É um equilibrar a cada milésimo de segundo, a cada suspiro, a cada piscar. Não se passa por brisas. Não há calmaria. Ao contrário, sempre há tufões querendo demolir o que pouco se constrói. É um furacão com a calmaria do seu centro, com calma ilusória. As gotas de chuvas que caem se misturam com as lágrimas para disfarçá-las. Para esconder o que se sente no íntimo. Para que revelar se o som do seu íntimo se perde no rugido das trovoadas?
Realmente a vida é um campo minado com inimigos ocultos.
Tudo é muito difícil. Sair às ruas, dirigir, correr, amar, acreditar, perdoar, entender e ser entendido... Tudo sempre é tão difícil.
É desigual e injusto lutar contra o que não se vê. Qualquer coisa é insuficiente. Mas não basta sentar e esperar que tudo aconteça. Não é melhor simplesmente viver. É preciso acreditar que a bonança existe. Acima das nuvens escuras o sol brilha. Tudo pode mudar. É preciso traçar estratégias e a melhor é querer viver. Não é fácil, mas é preciso viver.
Irônico pensar que mesmo conseguindo viver a todas as intempéries do cotidiano o prêmio de toda uma vida é a morte como ponto final. Há os crentes de que a morte é um descanso. Os contrários a esta teoria afirmam categoricamente que se morrer é descansar, preferem viver cansados. Não sei em qual dessas linhas de pensamentos filosóficas tão profundas me encaixo.
Simplesmente vivo.
 
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